Psicologia | Relações Étnicos Raciais

Psicologia e questões da terra

Profissionais têm amplo campo de atuação nas questões que envolvem o tema
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A atuação da Psicologia em questões da terra vem ganhando espaço na atualidade. A profissão está se colocando à frente de desafios como a reforma agrária, os conflitos armados no campo, as grandes obras e os processos migratórios, trazendo uma leitura psicológica do vínculo do sujeito com a questão da terra.

Para a conselheira federal Flávia Lemos, o direito à terra está relacionado a uma série de outros direitos, como a saúde e a educação. Segundo ela, existem várias possibilidades de atuação das psicólogas (os) em relação à temática da terra. Os psicólogos podem atuar, trabalhando em organizações não governamentais, atendendo às vítimas dos conflitos de luta pela terra ou em instituições governamentais. “É importante essa dimensão social, essa mediação de conflitos no nível da Psicologia social”, destacou.

A presença de mega eventos no Brasil, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, além das grandes obras que estão sendo realizadas no país, têm provocado diversas ações higienistas e demandado cada vez mais da Psicologia, por isso, a necessidade de se propor diretrizes que orientem a ação das psicólogas (os) no tema.

De acordo com Flávia, um exemplo é a construção da usina de Belo Monte, no Pará, que está interferindo em toda a região. “Estão fazendo a retirada dos povos indígenas do local. Essa transferência das populações é sofrida. Outra coisa que acontece é uma série de violações, como a exploração sexual”, disse.

Para o professor da Universidade de Brasília e relator do Direito Humano à Terra, ao Território e à Alimentação da Plataforma Dhesca Brasil, Sérgio Sauer, as questões relacionadas à terra trazem as relações políticas e sociais para um outro patamar. Segundo ele, é necessário que psicólogas (os) consigam pensar o acompanhamento, a análise e o acompanhamento psicológico num contexto político e social.

“Isso exige um esforço. Acho fundamental que as pessoas, sendo profissionais de Psicologia, não sejam ilhas isoladas. Esse é um tema histórico na sociedade brasileira, muito importante”, destacou Sauer.

Seminário Online
Na próxima quarta-feira (27), a partir das 10 horas, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) vai promover o debate online “A questão da terra: os indignados e a contemporaneidade”, para apresentar o documento de referência do Crepop “Propostas de Atuação da Psicologia no Campo das Políticas Públicas Relativas à Questão da terra”, produzido por especialistas a partir das contribuições da categoria. As discussões do debate serão norteadas pelo novo documento de referência do Crepop, que entra em consulta pública também no dia 27 de fevereiro.

A mediação da conversa será realizada pela conselheira do CFP, Roseli Goffman, e vai contar com a presença dos especialistas que participaram na elaboração do documento, a psicóloga e professora da PUC-MG Fabiana Campos e o psicólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Jader Leite. O professor Sérgio Sauer, que escreveu a apresentação do documento, também estará presente.

A conselheira do CFP Adriana Eiko acredita que o tema é de suma importância para a categoria. Segundo ela, as psicólogas (os) estão presentes em diversas políticas públicas, que têm como alvo a garantia de direito das populações alvo da luta pela terra. “É papel do psicólogo conhecer essa realidade. Cabe ao profissional da Psicologia lutar contra toda forma de opressão e qualquer tipo de desigualdade, além de defender direitos.”

As questões da terra também estão relacionadas às populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas. De acordo com a conselheira, fazer desapropriações de terras, no caso dos ribeirinhos e povos amazônicos para a construção de usinas, configura uma dimensão subjetiva de realidade que está pautada na vida do nosso povo, suas lutas e embates.

“Falar sobre a questão da terra é falar sobre um desafio que está posto para superar a desigualdade social e para, de fato, efetivar condições sociais de existência mais digna para a população”, disse Adriana.

Campanhas do CFP
O movimento em defesa da Aldeia Maracanã (RJ), do povo Guarani-Kaiowá (MS) e a campanha lançada pelo Conselho Federal de Psicologia, em dezembro do ano passado, “Somos 1 Milhão pela Demarcação das terras Indígenas”, em prol de ações pela demarcação de terra e defesa dos povos indígenas no Brasil, são exemplos dessa inserção.

Para assinar a petição online, acesse o link http://site.cfp.org.br/um-milhao-de-assinaturas-pela-demarcacao-de-terras-indigenas/