Psicologia | Relações Étnicos Raciais

Psicologia participa de Expedição Guarani-Kaiowá

Olhar é voltado para a garantia dos direitos humanos
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Ativistas de diferentes áreas, lideranças e professores indígenas participarão da Expedição Kaiowá-Guarani, que começa dia 11 e terá duração de aproximadamente duas semanas. A partir da cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul (MS), os participantes passarão por aldeias e acampamentos indígenas. O objetivo da missão é produzir relatórios e vídeos que documentem a situação de vulnerabilidade, conflitos, mortes e perseguição. O atraso na demarcação de terras indígenas e a ausência de políticas efetivas do Estado é o motivo principal para o massacre cultural dos Kaiowá Guarani, povo indígena que apresenta as maiores taxas de assassinatos e suicídios no Brasil.

Todas as ações realizadas pelo grupo serão acompanhadas por Guaranis da região, que serão responsáveis pelo acolhimento da equipe. Estarão presentes convidados de diferentes entidades e movimentos que apoiam a causa indígena, políticos e de universidades. A Expedição foi aprovada e organizada durante a Grande Assembleia Guarani, realizada no mês de agosto de 2011, no MS.

O coordenador da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP, Pedro Paulo Bicalho, participará da expedição. Para ele, a presença na atividade contribui para trazer a questão indígena como tema para a Psicologia e adiciona um olhar específico ao grupo. “O que queremos investigar são práticas sutis de violações de direitos humanos que, à primeira vista, não são identificadas como violações. Poderemos buscar práticas que pretendem ser de proteção e que acabam sendo violadoras”, afirma, relacionando a busca com o tema da Campanha Nacional de Direitos Humanos de 2012, “Em nome da proteção e do cuidado, que formas de sofrimento e exclusão temos produzido?”.

Trazer a questão indígena como pauta para a Psicologia brasileira é, segundo Bicalho, um dos objevos da Comissão de Direitos Humanos nos próximos anos.  “ Quando falamos em Psicologia e Direitos Humanos, é mais fácil pensar em prisões, em internação por uso de drogas, porque são questões onde a psicologia brasileira já está atuando”, pontua.

Kaiowá-Guarani: Povo da família Tupi Guarani, os Kaiowá-Guarani ocupam o Cone Sul do território brasileiro, localizando, no MS, entre os rios Ápa e Dourados. “Kaiowá” e “Guarani” são autodenominações dos grupos que falam dois dialetos dentro da língua Guarani. Ao longo das últimas décadas, o processo de aldeamento promovido pelos órgãos indigenistas e a expansão do agronegócio (principalmente soja, milho e cana-de-açúcar para produção de etanol) levaram cerca de 50 mil Guarani-Kaiowá a viver ems oito reservas indígenas demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) nas primeiras décadas do século e em áreas demarcadas posteriormente, muitas delas com ocupação de não índios. As áreas, no entanto, são proporção ínfima das terras tradicionalmente ocupadas por este povo e não garantem a sobrevivência física e cultual da população. Mais de quinhentos anos após a colonização brasileira, esse povo continua sofrendo violências constantes e é vítima de um processo de genocídio, pois sofre atos de violência de grupos armados e de omissão do Estado para práticas de extermínio.  Tais práticas criminosas englobam pelo menos 14 crimes, como homicídio, violação da dignidade da pessoa humana, suicídio simulado, ocultação de cadáver, estupro, infanticídio, entre outros. Além disso, cabe ressaltar a desnutrição que as comunidades vivem todos os dias por falta de alimentação. Chama atenção, na região, a presença dos chamados “jagunços”, forças de segurança privadas das fazendas, que têm inclusive autorização para porte de armas.

Entidades e movimentos sociais estão unindo forças para denunciar violações dos direitos humanos contra os Guarani. A organização da expedição é do  Tribunal Popular, uma articulação de entidades e movimentos sociais que vêm, desde 2008, unindo esforços para denunciar a violações dos direitos humanos promovidos pelo Estado brasileiro e sua lógica de criminalização da pobreza e das diferentes formas de organização popular.

Para o integrante do TP Givanildo Manoel, as expectativas da Expedição são grandes. “Fora do Brasil o assunto tem muita repercussão. Aqui dentro as pessoas conheceram o assunto a partir de reiterados assassinatos de lideranças indígenas”, explica. Para ele, o brasileiro tem visão eurocêntrica do assunto. “Alguns acreditam que eles [os indígenas] utilizam espaços demais, que a terra deve ser utilizada de outras maneiras. O olhar do agronegócio está presente na visão do brasileiro e ninguém pensa nas conseqüências que isso pode trazer para o Brasil e para o mundo”, completa.

Givanildo informou que, desde 2007, governo Federal e governo Norte-Americano fizeram acordo com o objetivo de construir 40 usinas de refinaria de etanol. Dezoito delas já foram construídas. “Existem interesses que vão contra os dos  Guarani-Kaiowá”, comenta Givanildo.

Valdelice Veron, filha do cacique assassinado Marcos Veron, já fez o convite à Fundação Nacional do Índio (Funai). O Ministério Público Federal (MPF) também foi convidado.

Objetivo
– Cobrar a demarcação das terras indígenas Kaiowá-Guarani, conforme previsto desde 2008 em portaria da Funai.
– Cobrar para que coloquem o ‘Marco’ nas Terras Indígenas que já têm portaria demarcatória e exigir uma resposta de por que não se fez isso até agora.
– Cobrar justiça para os assassinatos dos caciques e líderes indígenas que não prescreveram (250 assassinatos em oito anos.)
– Denunciar as perseguições e as mortes dos professores indígenas (13 mortos em três anos), que têm importante papel nas comunidades.