Embora tenha sido vítima de espancamento e perfurações, o Tribunal do Júri do Mato Grosso, no entanto, conclui, na semana que se passou, que o missionário jesuíta Vicente Cañas, líder indigenista e militante das questões da terra, morreu ” sem culpados”. Por cinco votos a dois os jurados declararam inocente José Vicente da Silva, principal acusado do assassinato, da mesma forma que, uma semana antes, outro corpo de júri inocentou o ex-delegado de Juína, local do assassinato, Ronaldo Osmar, acusado de ser co-autor do crime.
Vicente Canãs foi, durante décadas, defensor da posse da terra para os povos indígenas do Mato Grosso. Seu assassinato deu-se no ano de 1987, em condições nunca explicadas. Seu corpo só foi encontrado quase 40 dias após seu assassinato, em lugar distante. E, mesmo assim, porque amigos militantes sentiram sua ausência nos contatos pelo rádio.
O resultado do julgamento de Vicente Canãs causou indignação ao movimento social brasileiro que luta pelos povos da Terra. ” A justiça não se efetiva”, refletiu o procurador do Ministério Público, Mário Lúcio Avelar, que coordenou a acusação.
O caso Canãs, como ficou conhecido, teve como investigador um dos próprios acusados, demorou anos para chegar até a Polícia Federal , o inquérito não teve a rapidez necessária e terminou ” sem culpados”, demonstrando a incompetência das polícias Judiciária e Federal no Brasil e, sobretudo, que interesses políticos e econômicos podem ser mais fortes que forças locais e sociais.
A Comissão de Direitos Humanos do CFP reforça o coro das entidades frustradas com o resultado deste julgamento, que poderia ter sido exemplar na punição às agressões aos povos da terra e minorias étnicas.